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Timothée Chalamet faz Willy Wonka menos excêntrico em Wonka
“Venha comigo e você estará num mundo de pura imaginação”, cantava Gene Wilder em “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. “Vamos começar com um giro, viajando pelo mundo da minha criação”, continua, agora, Timothée Chalamet, em “Wonka”, filme que recupera o musical de 1971 e resgata a icônica canção “Pure Imagination”.
E é para uma viagem pelo mundo criado pelo autor Roald Dahl que o longa vai convidar os espectadores a partir desta semana, quando chega aos cinemas. O Willy Wonka escrito pelo britânico ganha uma versão mais jovem, anterior àquela figura do chocolatier magnata e excêntrico que muitos conheceram pelo livro ou pelas adaptações diretas dele.
Fruto não tão puro da imaginação de Paul King, “Wonka” é uma história nova. Bebe, claro, da cartilha de Dahl, mas o autor nunca voltou no tempo para falar da época na qual o filme se passa, a juventude de Willy Wonka.
“Tudo de bom começa com um sonho, e essa canção é sobre mudar o mundo. Me dá arrepios”, diz Chalamet sobre “Pure Imagination”, em conversa com jornalistas. “E esse filme é um par para o do Gene Wilder, uma ideia de quem esse personagem foi quando jovem. O Willy Wonka é muito amado, as pessoas são protetoras em relação a ele, mas essa história parecia merecedora de ser contada.”
Chalamet encarna o personagem depois de ele passar também pelas mãos de Johnny Depp, no “A Fantástica Fábrica de Chocolate” de Tim Burton, de 2005. Mas ele teve que buscar outro tom para o seu Wonka. Aqui, ele não é tão esquisito, nem sádico como alguns podem achar – a história original, afinal, poderia ser resumida como a de um adulto amargo que tortura criancinhas.
Em “Wonka”, temos um vislumbre da infância humilde do chocolatier, que foi inspirado pela mãe a fazer chocolates. Aos pouquinhos, ela comprava os ingredientes para aquela receita de luxo, até enfim conseguir fazer uma única barra para o filho.
Anos depois, sem ela ao lado, ele chega à sofisticada galeria que é lar das três mais celebradas lojas de doces do mundo, algo com que se deliciava apenas em sonhos. Perdido no espaço-tempo, apesar das referências à Paris dos anos 1940, aquele cenário alimenta a vontade de Willy de criar uma marca própria e de reinventar o chocolate.
Suas criações, que fazem os fominhas flutuarem ou dão cabelo aos carecas, logo perturbam os três chocolatiers mais estabelecidos, que acreditam que o doce deve ser apenas para os ricos – e simples, sem recheios e coberturas mirabolantes.
“Ele é um personagem muito otimista. Nossa história se passa 25 anos antes do livro, quando ele estava cheio de esperança, apesar de o mundo não ser tão amável quanto ele esperava”, diz King, que vem se firmando como um dos principais diretores do cinema dito para a família, depois dos aclamados “Paddington” e “Paddington 2”, sobre o ursinho igualmente querido da literatura britânica.
O diretor deixa clara sua intenção em agradar a toda a família, e diz que “Wonka” é um filme melhor apreciado quando visto ao lado dos parentes. É uma trama sobre as famílias que fazemos ao longo do caminho, afinal, ele resume.
No filme, Willy se vê num complô para derrubá-lo, arquitetado pelos maléficos concorrentes com a ajuda de um policial glutão e a dona da estalagem em que se hospeda, que o fez assinar um contrato que, na prática, o aprisiona por décadas.
Ele não é o único a cair em sua armadilha, no entanto. Nos porões da estalagem, conhece um grupo de pessoas de uma pureza que ecoa os acordes de “Pure Imagination”, que decide ajudá-lo a escapar. À frente dessa família de emergência está uma jovem órfã, que encarna os valores ilibados e a gentileza de Charlie Bucket, garotinho que ganha o bilhete dourado no livro.
“É muito divertido interpretar uma vilã. E eu sabia que me divertiria nesse projeto, porque eu amo os Paddingtons e sempre quis trabalhar com o Paul, que é um diretor muito colaborativo”, diz Olivia Colman, que faz uma dona da estalagem à la Madame Thénardier, de “Os Miseráveis”.
Ela é também uma farsante, movida a dinheiro e frustrada no amor, que destrata uma pequena órfã que foi parar sob seus cuidados – para quem vê de fora, é uma alma caridosa, mas os castigos e gritos direcionados à pequena não enganam por muito tempo.
Recheado de números musicais espalhafatosos, “Wonka” se banqueteia em referências ao gênero. O senso de encantamento de “O Mágico de Oz” está presente a todo momento e as cenas coreografadas na cidadezinha europeia de época, que juntam protagonistas e transeuntes em grandes coros, lembra “Oliver!”, que transformou Londres numa epopeia musical cheia de contradições sociais em 1968.
Há, em “Wonka”, mais apuro musical que nas versões da fábrica de chocolate de Tim Burton, mais interessado no sadismo por trás das canções de seu filme, e de Mel Stuart, que em 1971 talvez não tivesse os recursos necessários para transformar seus números numa gostosura estética.
Dado o potencial de uma adaptação de Roald Dahl, num momento em que elas se acumulam aos montes, apesar das tentativas de cancelá-lo por antissemitismo, a Warner Bros. não poupou ingredientes no que espera ser uma receita de sucesso. Foram cerca de US$ 125 milhões de orçamento, algo em torno de R$ 615 milhões.
O enorme tanque de calda de chocolate visto no clímax do filme é chocolate de verdade – uma fração dos efeitos que são, quase inteiramente, práticos, numa Hollywood que insiste em usar computação gráfica para qualquer detalhe fantasioso de suas produções. Um chocolatier de verdade, por sua vez, foi contratado para criar os doces em cena, que eram mesmo comestíveis.
O elenco brinca com essa camada extra de diversão durante a fabricação do filme. Mas um dos rostos na conversa com os jornalistas parece mais ranzinza, o que não é exatamente novidade para Hugh Grant. Em “Wonka”, ele vive um Oompa Loompa, homenzinho laranja que, no original, serve de mão de obra para a fábrica de Willy.
Um rosto inequivocamente britânico para o personagem ajuda a afastar qualquer denúncia de xenofobia, depois do tom exótico dado aos trabalhadores por Tim Burton, que escalou o queniano de ascendência indiana Deep Roy para o papel. Grant faz caras e bocas em suas aparições, feitas com captura de movimentos.
“É algo terrível. Você veste uma espécie de coroa que é muito desconfortável, e eu reclamava muito. Há tiras coladas em você, 16 câmeras ao redor. Eu fiz o meu melhor, mas a cada seis meses me chamavam para regravar minhas cenas”, diz o ator, que teve seu corpo substituído por uma animação e assinou o contrato depois de ser convencido por King, com quem trabalhou em “Paddington”.
“Eu ainda não sei onde meu corpo termina e onde começa a animação. Foi uma experiência muito, muito confusa. Me lembra de quando meu pai foi comigo à première de Paddington e, no final, me perguntou se aquilo era um urso de verdade. É tudo muito confuso.”
WONKA
Quando: Estreia nesta quinta (7) nos cinemas
Classificação: Não informada
Elenco: Timothée Chalamet, Hugh Grant e Olivia Colman
Produção: Estados Unidos, 2023
Direção: Paul King
Fonte: DOL – Diário Online – Portal de NotÍcias
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