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Indígenas usam redes sociais em defesa da autodeterminação
O jovem indígena da Amazônia Kauri Waiãpi viu sua vida mudar do dia para a noite, em 2021, quando postou no TikTok alguns vídeos de um festejo tradicional na aldeia Karapijuty, situada no município de Pedra Branca do Amapari, interior do Amapá. O conteúdo viralizou, mas ele conta que o que chamou a atenção foram os comentários.Humanidade já esgotou recursos do planeta do ano inteiroCúpula da Amazônia norteará próximos debates ambientaisCom milhares de interações, Waiãpi contou que, até aquele momento, não havia percebido que os internautas poderiam ser tão preconceituosos. Sem saber ao certo o que fazer, respondeu alguns comentários com sarcasmo, o que virou sua marca pessoal e o motivo de conquistar novos seguidores cada dia mais.O indígena adotou o nome Daldeia após ficar conhecido nas redes sociais como “o cara da aldeia”. Hoje com 28 anos, possui 2,7 milhões de seguidores no Tiktok e mais de 600 mil no Instagram. E leva informações sobre cultura e preconceito, com humor, para essa audiência.”A internet facilita a divulgação da nossa cultura e isso também faz parte do fortalecimento da luta indígena. Nós precisamos ocupar este espaço, principalmente nas redes sociais. A realidade de hoje é muito diferente da do passado. As pessoas achavam errado que os indígenas utilizassem a tecnologia.”Na quarta-feira (9), Daldeia celebra o Dia Internacional dos Povos Indígenas, instituído pela ONU (Organizações da Nações Unidas) como forma de reconhecer a atuação de lideranças dos povos originários de diversos países na busca por direitos e afirmação da identidade. O tema deste ano é Jovens indígenas como agentes de mudança para a autodeterminação.”Eu espero que a juventude indígena continue fortalecendo a cultura, como já estão engajados na internet. Vejo muitos comunicadores indígenas mostrando e explicando as realidades nas aldeias. Quero que essa tendência cresça ainda mais, e com os estudos em primeiro lugar. Nossos antepassados não tinham acesso à educação. O jovem precisa se manter nas escolas e universidades”, disse Daldeia.Com a Amazônia no centro das discussões sobre o enfrentamento do aquecimento global, a ONU confirmou o Brasil como sede da COP 30 (30ª edição da Conferência sobre Mudanças Climáticas), e o governo federal escolheu a cidade de Belém, capital do Pará, para receber o evento.Sobre a COP 30, Daldeia diz esperar “um reconhecimento ainda maior sobre a Amazônia”.”A floresta está sendo desmatada e terras indígenas estão sendo invadidas, e ninguém para isso. Espero que este assunto seja discutido. Sem a Amazônia não são apenas os indígenas que serão afetados, a biodiversidade também será.”Para a presidente do coletivo indígena do Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará), Regiliane Guajajara, 30, a educação é a ferramenta para a autodeterminação, a inclusão e o combate à violência e ao preconceito.”O objetivo do coletivo é lutar pela permanência dos estudantes indígenas nas universidades, articular junto à instituição para captar recursos e não deixar os indígenas desamparados, pois nós enfrentamos muitas dificuldades quando saímos das nossas comunidades para estudar e buscar uma carreira profissional”, afirmou.A presidente do coletivo é do Maranhão, outro estado pertencente à Amazônia Legal, como o Amapá e o Pará. Ela é estudante de psicologia na Unifesspa, que fica no município de Marabá, próximo ao local onde o povo Guajajara tem uma aldeia com cerca de 30 famílias.A entidade estudantil presta assistência para todas as etnias presentes na Unifesspa, entre elas Gavião (PA), Suruí (PA), Xipaya (PA), Atikum (PA), Kayapó (PA), Ticuna (AM), Galibi (AP), entre outras. Também é responsável pelo processo de heteroidentificação, que analisa o candidato autodeclarado indígena, a fim de evitar fraudes no sistema de cotas universitárias.”A juventude indígena foi fundamental para que nós pudéssemos alcançar ainda mais comunidades que ficam isoladas nos territórios. Os nossos anciões têm pensamentos diferentes. Os conhecimentos deles, passados para novas gerações, ajudam na valorização da cultura indígena. Os jovens estão lutando cada vez mais por visibilidade e direitos e estão presentes nos movimentos estudantis, fora das aldeias, participando de debates.”A universitária conta que já articula pautas voltadas à educação para COP 30. Temas ligados a inclusão, direitos, saúde das mães indígenas, valorização da cultura, proteção das florestas e territórios e enfrentamento à violência também estarão na agenda.”Os povos indígenas são os maiores defensores da floresta e de outros biomas. A realização da COP 30 em Belém é de suma importância, pois vai trazer uma visibilidade muito grande. Nós já estamos reunindo os coletivos estudantis para incluir a educação como pauta na luta pela preservação da Amazônia e dos povos indígenas.”
Fonte: DOL – Diário Online – Portal de NotÍcias