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A sensibilidade de um “Deus velho branco”
Quem ainda se importa com pessoas sensíveis? Com Caetano Veloso, por exemplo. Que, há poucos dias, no estúdio dele, teve a sensibilidade tocada profundamente, a ponto de chorar de modo convulsivo, quando ouviu sua música “Gente” gravada num belo andamento de samba melancólico, por Xande de Pilares.
No entanto, nem por se mostrar assim, um artista tão sensível, Caetano escapou de orgulhosa irreverência da jovem preta, que, no Instagram de Xande, escreveu:
– Este velho branco, é visto como Deus, por uma galera.
Não será, certamente Caetano, membro ativo do Poder Jovem, no passado, quem irá se ofender com a classificação dada a ele pela moça contemporânea do empoderamento da negritude.
Mas, convém lembrar: à criação artística, uma sensibilidade como a de Caetano será sempre essencial.Confira: Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Caetano Veloso (@caetanoveloso) Pois é ela que permite a alguém sair do eixo da sua existência. E se investir da condição de outra pessoa. Apreendendo pensamentos, sentimentos e emoções que guiam os comportamentos dela. Proeza ao alcance apenas de bons poetas e escritores, como o próprio Caetano. E, outro nordestino, José Lins do Rego, autor de “O Menino do Engenho”. Cuja sensibilidade veio à tona num episódio do dia a dia, assistido e coadjuvado pelo poeta Thiago de Mello, o qual, por isto, passou a contá-lo aos amigos.
Zé Lins estava internado num hospital do Rio de Janeiro. E, lá soube que a mãe de uma menina pobre, sem ter alimento para dar a ela, pediu à criança que roubasse a garrafa de leite deixada diariamente na porta do apartamento de um prédio.
A menina tentou se apossar do leite, mas foi surpreendida pela moradora do imóvel.
Que a obrigou a entrar no apartamento. E, lá, a manteve presa, enquanto chamava a Polícia por telefone.
Sentindo-se encurralada, a menina entrou em desespero. E se atirou pela janela.
Zé Lins tinha conseguido o número do telefone daquela senhora. E pediu a Mello que decorasse algumas frases preparadas por ele. Para serem repetidas quando ele ligasse para a mulher. As frases eram do tipo:
– Estou telefonando para parabenizá-la pelo seu gesto.
– Quero dizer que estou pronto para dar-lhe todo o apoio de que vier a precisar.
– Sinta-se à vontade, comigo.
A mulher, claro, iria perguntar quem estava falando com ela. Mello, neste momento, deveria dizer outra frase, com dureza.
E assim ocorreu.
Feita a chamada telefônica, a senhora atendeu-a. A conversa transcorreu como José Lins havia previsto. Por fim, ela quis saber:
– Mas, quem é o senhor?
Mello, bruscamente, como queria Zé Lins, respondeu:
– É o Satanás, sua desgraçada!
Ao ouvir aquele desfecho da conversa, Zé Lins riu tanto que rolou pela cama do hospital.
Fonte: DOL – Diário Online – Portal de NotÍcias